Em meio às muitas mentalizações tântricas praticadas nas aulas de Hathayoga, a visualização do Sol e da Lua é uma das mais difundidas.
Seja na concentração sobre a lateralidade do corpo durante a execução de um āsana ou na prática de um prāṇāyāma, uma prática comum consiste em observar o Sol e a Lua associados aos lados direito e esquerdo do corpo. E, sobre essa associação, quase que automaticamente vem a imagem de que um representa o pólo masculino e o outro, o pólo feminino.
Acontece, porém, que na tradição indiana, seja na mitologia (purāṇa), seja nas ciências astrais (jyotiṣa/astronomia, astrologia) ou nos ensinamentos alquímicos (rasāyana), tanto a Lua como o Sol são entidades representadas sob o gênero masculino.
Sob os nomes candra, śaśi (substantivos masculinos), ou qualquer outro dentre suas várias denominações, a Lua é entendida como um ser masculino. Portanto, não existe uma relação obrigatória de candra (lua) e sūrya (sol) com a polaridade sexual.
Na metafísica do tantra, a visualização da alternância entre Lua e Sol diz respeito ao tempo, mais especificamente ao domínio sobre o tempo. E, como o percurso do yogin tântrico passa pela aniquilação do tempo, o controle sobre o ciclo de candra-sūrya, bem como o poder de produzir uma conjunção (interna) entre os dois, visa essa grande meta, que é, em última instância, "a morte da morte".
Serve como exemplo esse trecho da Shiva-saṁhitā (2.3):
sṛṣṭi-saṁhāra-kartārau bhramantau śaśi-bhāskarau |
nabho vāyuś ca vahniś ca jalaṁ pṛthvī tathaiva ca ||
Esses versos estão no segundo capítulo da obra, cujo início trata das correspondências entre o espaço e o corpo (macro e micro). Shiva está enumerando os elementos cósmicos existentes no corpo humano:
"Há a Lua (śaśi) e o Sol (bhāskara), que se movimentam realizando criação (sṛṣṭi) e destruição (saṁhāra). Há o éter, o ar, o fogo, a água e também a terra."
Menos do que atribuir a criação e a destruição especificamente a cada um dos dois corpos celestes, o trecho os associa aos ciclos de supensão e manifestação do mundo. Nesse caso, o tempo é o símbolo maior da alternância dos estados de manifestação (sṛṣṭi/criação) e de suspensão (saṁhāra/destruição). E o Sol e a Lua estão estreitamente ligados à existência do tempo, dia-e-noite. O movimento dos dois simboliza o vir-a-ser.
Em síntese, o controle sobre a conjunção e a alternância do Sol e da Lua na prática meditativa tem como meta mais elevada vivenciar uma realidade que está eternamente estabelecida muito além do criar e do destruir. E, como efeito mais palpável na consciência do yogin, tais visualizações auxiliam nos processos de aceitação do tempo, com seus ganhos e suas perdas - uma integração com os vários ciclos de vida e de morte pelos quais todos passamos.