• Por obra indescifrable de un decreto divino, te buscamos vanamente; más remoto que el Ganges y el poniente, tuya es la soledad, tuyo el secreto.
  • Meu mestre ensinou apenas uma lição: "Olha pra dentro e fixa na profunda presença", Guardando este preceito em meu coração, em plena nudez dei início à minha errância.
  • O que desfruta está presente no desfrute e no desfrutado, sempre e em toda parte.

Mudança do Blog para domínio próprio

As postagens deste Blog serão transferidas para o Blog "O Som e a Escritura", no seguinte endereço:

http://www.om.pro.br/blog

Em breve, apagarei este blog e concentrarei a rotina de escrita (ainda escassa, mas em breve não mais) somente no Translados e Apontamentos.

Obrigado pela visita e acompanhamento!
Até breve,
João
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A un gato




Os versos que acompanham o gato que aparece no topo da página inicial deste blog são de Jorge Luis Borges. O gato é uma gravura de Aldemir Martins.

Eis o poema completo, que se encontra no livro "El oro de los tigres":


A un gato

No son más silenciosos los espejos
Ni más furtiva el alba aventurera;
Eres, bajo la luna, esa pantera
Que nos es dado divisar de lejos.
Por obra indescifrable de un decreto
Divino, te buscamos vanamente;
Más remoto que el Ganges y el poniente,
Tuya es la soledad, tuyo el secreto.
Tu lomo condesciende a la morosa
Caricia de mi mano. Has admitido,
Desde esa eternidad que ya es olvido,
El amor de la mano recelosa.
En otro tiempo estás. Eres el dueño
de un ámbito cerrado como un sueño.



No blog "Mi Gato", quando se publica esse mesmo poema, assim falam da conjunção entre poesia e gatos:

"Para un verdadero poeta, cada momento de la vida, cada hecho, debería ser poético, ya que profundamente lo es", [Borges] escribió en el prólogo. Como ese momento en que su propia mano bajó a acariciar el lomo de un gato.
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Lal Ded - santa, yoguini, poeta extática da Caxemira


No século XIV, viveu na Caxemira, a santa, yoguini, poeta conhecida Lal Ded, ou Lalla Ded e Lalleśvarī. Depois de renunciar à vida num casamento tradicional, ela foi iniciada no tantrismo monista da Caxemira. Muitas são as yoguinis que viviam em êxtase, iniciadas em várias das escolas místicas indianas, porém poucas são as que ficam registradas fora do âmbito dos renunciantes, visto que nem todas produziram - como Lal Ded - uma grande obra poética transmitida ao longo dos séculos. Diz-se que um terço dos provérbios da Caxemira podem ter origem em seus dizeres.
Relata-se que Lal Ded caminhava nua, cantando, declamando seus ensinamentos, que, em certa medida, atingiram profundidade superior aos de seus mestres. Enquanto a maior parte dos santos e santas da Índia entram em estado de identidade com seu deus, Lal Ded vivia absorvida no absoluto, não personificado, muito em conformidade com a visão metafísica profunda do Shivaísmo da Caxemira. Esse estado é recorrentemente descrito por meio da linguagem poética com que ficaram registrados os seus ensinamentos.
Um dos textos poéticos a ela atribuídos é o que traduzi livremente (a partir do inglês) com as seguintes palavras:

Meu mestre ensinou apenas uma lição:
"Olha pra dentro e fixa na profunda presença".
Guardando este preceito em meu coração,
em plena nudez dei início à minha errância.

Para conhcer outras mulheres extáticas da Índia, o livro Female Ascetics in Hinduism, de Lynn Teskey Denton, que me serviu de fonte, é uma boa orientação. Há boa quantidade de informação online sobre Lal Ded, entre elas o livro "Lal Ded - the Great Kashmiri Saint-Poetess, que está disponibilizado por inteiro aqui:






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Mudança no Blog

A partir de hoje (31.10.2009), esse Blog, que pretendia tratar exclusivamente de yoga, shivaísmo e tantrismo, passará a tratar de temas diversos. Deixa de chamar-se Yogas, Yogam, Yogena para chamar-se Blog do João.

Isto porque minhas postagens de yoga estão concentradas no Blog do Grupo de Estudos que oriento, cujo endereço é:

http://estudosdeyoga.blogspot.com/
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O Sol e a Lua nas visualizações do Hathayoga


Em meio às muitas mentalizações tântricas praticadas nas aulas de Hathayoga, a visualização do Sol e da Lua é uma das mais difundidas.
Seja na concentração sobre a lateralidade do corpo durante a execução de um āsana ou na prática de um prāṇāyāma, uma prática comum consiste em observar o Sol e a Lua associados aos lados direito e esquerdo do corpo. E, sobre essa associação, quase que automaticamente vem a imagem de que um representa o pólo masculino e o outro, o pólo feminino.
Acontece, porém, que na tradição indiana, seja na mitologia (purāṇa), seja nas ciências astrais (jyotiṣa/astronomia, astrologia) ou nos ensinamentos alquímicos (rasāyana), tanto a Lua como o Sol são entidades representadas sob o gênero masculino.
Sob os nomes candra, śaśi (substantivos masculinos), ou qualquer outro dentre suas várias denominações, a Lua é entendida como um ser masculino. Portanto, não existe uma relação obrigatória de candra (lua) e sūrya (sol) com a polaridade sexual.
Na metafísica do tantra, a visualização da alternância entre Lua e Sol diz respeito ao tempo, mais especificamente ao domínio sobre o tempo. E, como o percurso do yogin tântrico passa pela aniquilação do tempo, o controle sobre o ciclo de candra-sūrya, bem como o poder de produzir uma conjunção (interna) entre os dois, visa essa grande meta, que é, em última instância, "a morte da morte".
Serve como exemplo esse trecho da Shiva-saṁhitā (2.3):

sṛṣṭi-saṁhāra-kartārau bhramantau śaśi-bhāskarau |
nabho vāyuś ca vahniś ca jalaṁ pṛthvī tathaiva ca ||

Esses versos estão no segundo capítulo da obra, cujo início trata das correspondências entre o espaço e o corpo (macro e micro). Shiva está enumerando os elementos cósmicos existentes no corpo humano:

"Há a Lua (śaśi) e o Sol (bhāskara), que se movimentam realizando criação (sṛṣṭi) e destruição (saṁhāra). Há o éter, o ar, o fogo, a água e também a terra."

Menos do que atribuir a criação e a destruição especificamente a cada um dos dois corpos celestes, o trecho os associa aos ciclos de supensão e manifestação do mundo. Nesse caso, o tempo é o símbolo maior da alternância dos estados de manifestação (sṛṣṭi/criação) e de suspensão (saṁhāra/destruição). E o Sol e a Lua estão estreitamente ligados à existência do tempo, dia-e-noite. O movimento dos dois simboliza o vir-a-ser.
Em síntese, o controle sobre a conjunção e a alternância do Sol e da Lua na prática meditativa tem como meta mais elevada vivenciar uma realidade que está eternamente estabelecida muito além do criar e do destruir. E, como efeito mais palpável na consciência do yogin, tais visualizações auxiliam nos processos de aceitação do tempo, com seus ganhos e suas perdas - uma integração com os vários ciclos de vida e de morte pelos quais todos passamos.
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